Fábio e seus 500 jogos pelo Cruzeiro: Ídolo ou não, eis a questão


Cruzeiro Esporte Clube - Fábio e seus 500 jogos pelo Cruzeiro: Ídolo ou não, eis a questão

O goleiro Fábio se aproxima do jogo de número 500 defendendo a camisa azul celeste. Um feito que o mato-grossense de 32 anos provavelmente não imaginava quando iniciava sua carreira no modesto União Bandeirante do Paraná, partindo depois para o Atlético-PR, onde começou a se destacar. De lá, uma transferência para o Cruzeiro, em meados de 1999, atuando em quatro jogos de pouca relevância, para seguir ao Vasco da Gama, no ano 2000.

Nesse ano, sem jogar, Fábio conquistou seu maior título com o manto estrelado. A Copa do Brasil de 2000. O goleiro fazia parte do grupo que tinha como titular um eficiente porém contestado André Doring. Traçando um paralelo entre esses dois donos da meta azul, podemos chegar a uma conclusão muito interessante. André foi titular, capitão, campeão e decisivo pelo Cruzeiro. Na final dessa Copa do Brasil, falhou no gol dos paulistas, marcado por Marcelinho Paraíba. Porém, com o pescoço salvo devido a qualidade de Fábio Júnior, Muller, Geovanni e companhia, o goleiro foi chamado a ação nos acréscimos desse jogo, para salvar uma cabeçada do mesmo Marcelinho. E fez uma das defesas mais memoráveis da história do Mineirão, evitando o gol que daria o empate e levaria a taça de volta as mãos do tricolor paulista.

O melhor goleiro que vi defendendo o Cruzeiro é um tal de Nelson de Jesus Silva. Dida, para os íntimos. A defesa na final da Libertadores de 1997 é épica. A sobriedade com que defendia a meta do nosso clube, inesquecível. É um ídolo que carregarei por toda a vida. Não vi Raul, mas Dida foi um monstro. André e Fábio não atingiram esse nível, por não serem vitoriosos nem espetaculares como o atual experiente goleiro do Grêmio. André, nunca será. Fábio, dificilmente.

Fábio, teve algumas chances de ser decisivo, mas com o perdão da má palavra, sempre flatulou na farofa. Nem sempre falhou, mas simplesmente não fez o impossível. Aquilo que Raul fazia, que Dida fazia e que até mesmo André fez, em 2000. Mais recentemente, que Gomes fez contra o Flamengo na decisão da Copa do Brasil 2003. Aquilo que Fábio faz em jogos esporádicos pelo Brasileiro ou pelo Campeonato Mineiro. Em jogos decisivos, ele não consegue.

Não sou um perseguidor do goleiro, desses que bota a culpa da perda da Copa do Brasil 2005 em seus ombros. Os dois gols de Cristian poderiam ser defendidos, mas a inércia de toda a equipe frente a um patético Paulista de Jundiaí não pode ser totalizada na figura do goleiro. O apoiei no pior momento da carreira, aquela lesão pós chapéu de Danilinho em 2007, com o triste episódio gol de costas para coroar um dia que não devia ter existido. Mas acho que ele poderia ter feito algo melhor naquela decisão de 2009. Depois de atuação excepcional no primeiro jogo, em La Plata, tudo parecia caminhar para sua coroação como ídolo. Porém, aquele cruzamento para Gata Fernandez, aquela cabeçada safada de Boselli… Sempre me ficará a certeza de que ele poderia ter feito melhor. Não são frangos, não são falhas. Mas um goleiro de time campeão, salva esse tipo de bola. Tromba no atacante, divide, não peca pela omissão.

2010 foi seu grande ano individualmente. Apesar do time não ter conquistado nenhum troféu, venceu as premiações de melhor goleiro do Campeonato Brasileiro tanto pela CBF quanto pela Revista Placar e sua tradicional Bola de Prata. Em sua passagem por Belo Horizonte, oito conquistas no Troféu Telê Santana – três delas como melhor atleta do futebol mineiro no ano, independente da posição em campo – seis títulos do troféu Guará e ainda cinco estatuetas como o melhor goleiro do Campeonato Mineiro. Título, pelo clube, que é bom, apenas quatro campeonatos mineiros. E aí reside a grande deficiência do nosso arqueiro. Como ser ídolo sem ter títulos de expressão? Aprendi com meu pai e com a história do Cruzeiro, que ídolos aqui são aqueles que passaram e escreveram seu nome na história com conquistas. Essas, Fábio ainda não nos deu. Por mais que tenha passado temporadas com grupos tecnicamente fracos, em outras ocasiões tivemos equipes fortes e em plenas condições de angariar canecos. O que não aconteceu. Pode-se culpar a sorte, o adversário, os companheiros ou alguma macumba. Fato é: Cadê aquela Libertadores? Aquele Brasileirão? Copa do Brasil?

Mas a hora não é de questionar. Assim como boa parte da torcida, estou confiante no time para essa temporada 2013. O Mineiro não veio, mas isso não importa mais. O time mostrou força e vem bem ajustado. Copa do Brasil e Campeonato Brasileiro são objetivos palpáveis e Fábio é peça chave no esquema de Marcelo Oliveira. Por sua segurança embaixo dos postes e pela experiência e importância fora dos gramados, como um personagem que inspira confiança nos jogadores mais jovens. Pessoalmente, vi Fábio duas ou três vezes em visitas a Toca e falei com o mesmo em parcas ocasiões. Mas sempre me pareceu uma grande pessoa, um cara humilde e que não deixou essa fama subir a cabeça. Bom sinal. Mas nada disso o colocará como unanimidade entre os ídolos se não vierem os grandes troféus.

Quinhentos jogos é uma marca absolutamente expressiva. O jogo contra a Portuguesa é aquele que será muito mais lembrado por esse feito do goleiro que pelo placar – a menos que aconteça alguma aberração. Fábio já está eternizado no clube como um dos maiores da história. Já tem as mãos emolduradas na calçada da fama do Mineirão. O que eu realmente quero é que ele ganhe um grande título pelo Cruzeiro. Ele merece. A torcida merece. Todos nós merecemos um ídolo de verdade, que seja lembrado não somente pela longevidade. Alcançar Zé Carlos como o jogador com maior número de jogos pela camisa 5 estrelas é outra realidade que está próxima. Em três ou quatro temporadas o número pode ser batido. Mas já imaginou que desagradável ter o jogador com mais jogos sem poder lembrar de uma grande decisão onde ele tenha feito a diferença em nosso favor? É algo para refletir.

Parabéns, Fábio. Obrigado pelos bons serviços prestados. E que melhore sua produtividade nessas próximas temporadas. Independente do que aconteça nos últimos anos de sua carreira, você estará para sempre na história do Cruzeiro. Ser um grande goleiro, ou um ídolo campeão é um caminho que somente você poderá trilhar. Que as páginas heroicas e imortais reservem com grande carinho o seu espaço para Fábio Deivson Lopes Maciel. Que ao olhar para trás, você possa se recordar dos tricampeonatos da Libertadores e do Brasileiro, como os melhores momentos de sua trajetória campeã. Que minha premonição funcione; e o futuro nos dê razão.