Escanteios da discórdia


Jogo difícil, bola aberta para o lado, ultrapassagem do lateral, tentativa de cruzamento e a bola fica na marcação. Escanteio. Oportunidade de gol, certo? Momento de alçar a bola na área e fazer valer as jogadas ensaiadas que foram treinadas durante a semana. No caso do Cruzeiro dos últimos tempos, não é bem assim. E as cobranças de escanteio rasteiras ou a meia-altura, facilmente interceptadas pela zaga adversária se tornaram uma constante. Porquê é tão difícil alçar a criança em condições de um ‘testaço’ matador de um dos nossos gigantes?

Esse problema está longe de ser novidade. Nos tempos em que Montillo era nosso camisa 10, as cobranças de escanteio ruins eram a tônica do argentino. Por mais que armasse o time, fizesse gols e fosse essencial, tinha esse problema no fundamento. E sempre era ele a bater… Durante 2013 e 14, os gols de cabeça foram a marca do time bicampeão brasileiro, com mais de 15 gols de zagueiros em cada temporada. As cobranças, normalmente, eram de Everton Ribeiro e Dagoberto. E a artilharia aérea celeste era mortal. Dedé, Bruno Rodrigo, Manoel e Léo (maior zagueiro-artilheiro da história do clube), aproveitaram para fazer seus nomes, graças a cruzamentos açucarados.

Em um time pouco entrosado e que sofre muito para marcar gols, a bola parada pode ser um artifício excelente. Mas não vem obtendo bons resultados. O último gol anotado por um zagueiro cruzeirense foi marcado por Manoel, contra o Flamengo, no primeiro turno do Brasileiro de 2015, estreia de Luxemburgo. O que isso nos leva a crer é que desde a saída de Marcelo Oliveira e sua comissão, o time não treina mais a tão falada ‘bola parada’. Porque quando um fundamento é bem treinado, o resultado vem nos jogos. Isso é fato, não há muito o que questionar.

Dedé, que ficou todo o ano de 2015 parado, não marca desde o gol que nos deu os 3 pontos contra o Vitória, no Brasileiro de 2014. Léo foi as redes pela última vez na Libertadores do ano passado, marcando um dos gols do triunfo sobre o Universitário Sucre, no Mineirão. Bruno Rodrigo, tratado em alguns momentos como uma arma ofensiva, não levanta a galera desde o empate contra o San Lorenzo, que nos eliminou da Libertadores 2014. Não acredito que os atletas tenham “desaprendido” a cabecear. A bola que não tem chegado na medida.

A necessidade de um especialista nesse quesito pode ser ressaltada porque Willian, Alisson e Arrascaeta não são grandes cobradores. Nosso gol na vitória sobre a Caldense até nasceu de um cruzamento de Willian, que Alisson aproveitou para marcar (em impedimento) após desvio de Bruno Rodrigo. O argentino Pisano cobrou bem alguns escanteios na vitória sobre o Atlético-PR, um deles que Bruno Viana cabeceou com perigo. Talvez seja uma alternativa, mas a solução é treinamento. O sucesso passa muito pela atenção a esse tipo de detalhe. Até porque, como diria o técnico tetracampeão do mundo, o gol se resume a exatamente isso: detalhe.

Por: Emerson Araujo