Éramos todos Deivid


Éramos todos Deivid depois que o então auxiliar técnico de Vanderlei Luxemburgo comandou a equipe na vitória contra a Ponte Preta no Brasileirão do ano passado. O auxiliar do Luxa mudou a forma do time jogar alterando alguns jogadores de posicionamento e mudando o esquema tático do Cruzeiro. Agradou. E agradou tanto que Luxemburgo foi para a China e Deivid ficou.

Éramos todos Deivid quando a diretoria celeste anunciou a efetivação do treinador, após a eminente saída de Mano Menezes, afinal, era preciso apoiar o novo comandante celeste e mostrar que ele poderia contar com todo o apoio do torcedor para desenvolver seu trabalho com tranquilidade. Mas isso até os 30 minutos do segundo tempo do jogo de ontem. Até aquele momento éramos todos Deivid.

O treinador celeste estreou no Campeonato Mineiro 2016 amargando um empate sem gols com o modesto time da URT. Retrancado e muito bem postado em campo, o time visitante bloqueou as tentativas de ataque da Raposa e saiu do Mineirão com um resultado que deixou seus torcedores orgulhosos. Já o Cruzeiro de Deivid, ainda em ritmo de pré-temporada, bem que lutou, mas não conseguiu furar a retranca do adversário.

Deivid até tentou, com ousadia, fazer com que o Cruzeiro agredisse ainda mais a URT quando decidiu alterar, de uma só vez, o trio de ataque celeste – foram 3 substituições por atacado, ao estilo de Luxemburgo, na metade do segundo tempo – numa tentativa de fazer com que os jogadores que entraram (descansados) enfrentassem uma defesa já desgastada do adversário. Aos 30 minutos da etapa final, a televisão focava a expressão de Deivid: ansioso, desesperado pelo gol e um pouco frustrado por já imaginar um resultado ruim logo na estreia do Mineiro. Nesse momento, éramos todos Deivid… o Mineirão inteiro estava ansioso, desesperado pelo gol e frustrado.

Quando o árbitro apitou o final do jogo, éramos todos Deivid. Muitas pessoas nas redes sociais já pediam a cabeça do treinador e já questionavam a capacidade do atual técnico cinco estrelas. Há ainda quem já prevê o pior para toda a temporada, mesmo que tenha sido apenas a segunda exibição (em jogos oficiais) do Cruzeiro no ano.

Acredito que qualquer análise feita de maneira precoce não é muito digna de credibilidade, ainda mais na atual conjuntura na qual se encontra o Cruzeiro. O clube passou por uma verdadeira faxina em seu elenco, houve algumas mudanças internas e Deivid foi escolhido como novo treinador de um clube que está implantando uma nova filosofia de trabalho. Foi apenas o segundo jogo oficial de Deivid e o que podemos falar até agora é que o treinador cruzeirense ainda está fazendo testes, como qualquer treinador do mundo faria se tivesse a oportunidade de assumir uma equipe desde o início da temporada. Também foi assim com Marcelo Oliveira, em 2013. Aquele time começou com Ricardo Goulart no banco de reservas e com Diego Souza acabando com a mobilidade do meio-campo celeste. Após algumas rodadas de observação, Marcelo fez alterações importantes que, mais tarde, resultaram num Cruzeiro que seria bicampeão brasileiro.

Não há comparações a fazer. Deivid não é Marcelo Oliveira, e o time atual não é o mesmo que foi bicampeão brasileiro recentemente. A paciência do torcedor é que continua curta, como foi em 2013. Levou algum tempo e foi preciso tomar um sacode do Atlético no primeiro jogo da final do Mineiro para que o torcedor entendesse que deveria fechar com o time (foi naquele momento que foi iniciada a campanha #FechadoComOCruzeiro).

Deivid, entenda, qualquer treinador do mundo que aceitar o desafio de ser treinador de um clube gigante como o Cruzeiro tem que saber lidar com a pressão. E a pressão, no Cruzeiro, existe até em amistoso. Nós vamos querer sempre a vitória, independentemente da força do adversário. Ontem, aos 30 do segundo tempo, sua expressão era de ansiedade e de desespero. Isso não passa confiança para o torcedor. É bom rever isso.

Torcedor, entenda, Deivid está testando as melhores opções. Aos poucos, vai dar oportunidade para todo mundo, como fez o Marcelo em 2013. O time vai se encaixando à medida que joga mais junto. Também não desprezemos a URT, que soube jogar contra o Cruzeiro. Tentamos, não deu. O ritmo é de pré-temporada, os jogadores ainda estão em processo de entrosamento, os times do interior vêm se preparando há alguns meses e toda aquela história que você já sabe. É preciso ter paciência mesmo, não há outra coisa a fazer. Os primeiros jogos serão de dar calo nos olhos, como todo jogo de início de temporada.

Não nos precipitemos nas análises. É cedo demais para concluir qualquer coisa. Vamos continuar apoiando como apoiou ontem a torcida do Cruzeiro no Mineirão. Vamos dar um voto de confiança ao Deivid e aos atletas. Vamos cobrar na hora certa e quando tivermos motivos para isso.

Por: Pedro Henrique Campos