Dossiê Fábio 2007: Do inferno à redenção: A pior fase e início da conquista da confiança da torcida


Um ano complicado, talvez o pior da carreira do goleiro celeste, mas também o que começou sua redenção com a torcida. O Cruzeiro iniciou o ano no comando do técnico Paulo Autuori, que montou um time com medalhões do futebol. Geovanni, Araújo, Ricardinho e Rômulo faziam parte do elenco durante o campeonato estadual.

O Mineiro desse ano, porém, foi o pesadelo do goleiro Fábio. Marcado por falhar de maneira esdrúxula  contra o Ipatinga – o goleiro segurou uma bola fácil, mas acabou empurrando a mesma para dentro do gol – na derrota por 3 a 1, em jogo válido pela sétima rodada da primeira fase do estadual, Fábio recebeu duras críticas, mas ainda assim foi mantido como titular.  O Cruzeiro, por sua vez e apesar de não jogar bem até então, foi para a final do torneio com a melhor campanha e jogava por dois empates contra o Atlético.

Logo antes do primeiro jogo da final, o Cruzeiro havia sido eliminado precocemente da Copa do Brasil, nas oitavas-de-final para o Brasiliense. A Raposa perdeu o primeiro jogo por 1 a 0 em casa e só conseguiu o empate (1 a 1) no jogo de volta, em Brasília –, e por isso o clima andava pesado na Toca da Raposa. E foi na primeira partida da final que Fábio viveu um verdadeiro inferno com a camisa cinco estrelas. O Cruzeiro perdeu por 4 a 0 e Fábio ficou marcado por tomar um gol em que tomou um chapéu do jogador Danilinho e também por um lance histórico, protagonizado pelo atacante Vanderlei. Enquanto estava de costas e ia buscar a bola do gol anterior, no lado de dentro das redes, o goleiro foi surpreendido e o Atlético marcou pela quarta vez.

Depois deste episódio, Fábio acabou execrado por quase toda a torcida celeste e é lembrado até hoje pelos adeptos rivais por esse fatídico dia em sua carreira. Para piorar, antes do segundo jogo da final, foi constatado que o goleiro havia sofrido uma lesão no joelho. Na tentativa de evitar o segundo tento do Atlético, Fábio bateu o joelho contra a trave. “Na hora ali, com o sangue quente, deu para terminar a partida. Mas fizemos os exames e, infelizmente, acusou uma lesão. Mas, felizmente, não precisa de cirurgia”, palavras do próprio goleiro.

Depois de identificada a lesão, Fábio ficou afastado do time por quatro meses. Antes do segundo jogo da final, o técnico Paulo Autuori pediu demissão e entregou o cargo. O substituto do técnico até que o novo fosse contratado era Emerson Ávila. Para a partida final, vencida pelo Cruzeiro por 2 a 0, resultado insuficiente para reverter a vantagem atleticana, o goleiro Lauro foi o titular.

Foi então que o Cruzeiro contratou o técnico Dorival Júnior para a disputa do Campeonato Brasileiro, que testou os goleiros Lauro e Gatti durante o período em que o titular esteve contundido. Dorival liberou os medalhões e começou a formar uma equipe com apostas em jogadores baratos (Marcelo Moreno e Ramires) ou vindos da base (Guilherme) e formou um time rápido, que fazia muitos gols, mas que ainda sofria com a defesa, uma vez que os goleiros não haviam se firmado.

E aí entra a redenção de Fábio: Dorival Júnior apostou no goleiro para ser novamente o titular do time, contrariando o pedido da torcida, que vivia a sombra do pesadelo da final do Campeonato Mineiro do mesmo ano. Fábio voltou ao time titular na 11ª rodada do Campeonato Brasileiro, na vitória do Cruzeiro por 2 a 1 contra o Goiás. A equipe, que era 12ª colocada quando ele voltou, chegou a brigar pelo título, porém, não conseguiu manter a disputa contra um São Paulo de aproveitamento espetacular, caiu de rendimento e acabou ficando com uma vaga na Copa Libertadores.

Fábio esteve presente em alguns jogos marcantes nesse Brasileirão, como a vitória por 5 a 0 contra o Palmeiras no Mineirão e o clássico vencido por 4 a 3, marcado pelo “drible da foca” feito pelo jogador Kerlon. A sua participação na arrancada celeste foi evidente e os números atestam isto, afinal a média de gols sofridos pelo time celeste caiu sensivelmente após o retorno do arqueiro. Foram 22 gols nos 10 primeiros jogos (uma média de 2,2 gols por partida e o estatuto de pior defesa da competição até aquele momento), mas nos jogos após sua volta, os números foram de 36 gols sofridos nos 28 jogos seguintes (caindo para uma média 1,2 por jogo), em um ano em que a defesa cruzeirense não conseguiu se firmar e transmitir tranquilidade em momento algum.

O Brasileiro terminou com o Cruzeiro em 5º lugar, registrando 73 gols feitos e 58 gols sofridos e Fábio, que havia vivido a sua pior fase no Cruzeiro no primeiro semestre, encerrava o ano conquistando a confiança de boa parte da torcida cinco estrelas.

Pênaltis: Neste ano Fábio passou em branco e não defendeu nenhum pênalti.

Títulos: Nenhum.

Premiações: O goleiro não recebeu nenhuma premiação individual nesse ano, ficando na 5ª posição do prêmio “Bola de Prata” da Revista Placar (Editora Abril) em parceria com a emissora ESPN Brasil, com nota média de 5,86 em 28 jogos – Rogério Ceni (São Paulo) foi novamente o campeão, com nota média de 6,05 em 35 jogos.

Opinião: “Antes de mais nada, é preciso entender que não há razões objetivas para justificar uma idolatria. Há vários clubes em que ídolos marcantes não fizeram parte de times vitoriosos ou grandes gerações, mas se identificaram com o time e com o torcedor de forma importante. É claro que nem sempre o ídolo é unânime: ele pode ser ídolo para uma boa parte da torcida e não ser para outra. Talvez seja o caso do Fábio. Durante muito tempo o torcedor do Cruzeiro defendeu o Fábio como um dos maiores goleiros do futebol brasileiro e até injustiçado na Seleção. Naturalmente, o tempo chega para todos, e o momento técnico do Fábio não é dos melhores. Mas não seria correto apagar o que já passou em função da fase atual. É verdade que ele não ficou marcado por conquistas importantes, mas era peça fundamental de um time que estava sempre nas cabeças das competições que disputava. Na minha opinião, será lembrado como um dos grandes goleiros da história do clube. Sobre ser ídolo, realmente é uma questão pessoal, mas acredito que muitos ainda o vejam desta forma.” (Leonardo Bertozzi, jornalista da emissora de TV ESPN Brasil).