Do que o Cruzeiro 2015 está mais próximo, 2009 ou 2011?


Passado um terço do Campeonato Brasileiro, o Cruzeiro encontra-se na 11ª colocação com 16 pontos. São 13 pontos a menos que o líder, 10 a menos que o G-4 e apenas 3 acima do Z-4. A situação, contudo, é bastante semelhante a duas edições nos pontos corridos que terminaram completamente diferentes para a Raposa: 2009 e 2011.

2009 – Arrancada para o G-4 teve até flerte com título.

Em 2009, a situação da Raposa na 13ª rodada era um pouco pior que a de 2015. Com 14 pontos, o time celeste ocupava a 15ª colocação com 14 pontos conquistados. Eram 14 pontos a menos que o líder, 9 a menos que o G-4 e apenas 2 pontos acima do Z-4.

A instabilidade das equipes durante todo o campeonato foi a marca do torneio, no qual o Flamengo, com 69 pontos, foi o campeão com pior aproveitamento da história dos pontos corridos. A refugada dos líderes do início do campeonato, aliás, foi tamanha que nem Atlético-MG nem Palmeiras conseguiram vagas na Libertadores: Flamengo (8°), Internacional (3°), São Paulo (14°) e Cruzeiro (15°) emendaram uma boa sequência no restante do campeonato e ficaram com as vagas.tabela_01

O início instável da Raposa explica-se, contudo, pela concentração na Taça Libertadores. Vice-campeão naquele ano, o time celeste só passou a atuar com força máxima na 11ª rodada (o confronto com o Botafogo, válido pela 11ª, foi realizado em Agosto pelos titulares).

Com 15 vitórias, 6 empates e 6 derrotas, totalizando 51 pontos nas 25 rodadas restantes, o Cruzeiro teve um aproveitamento de 68% dos pontos disputados na reta final. Com isto, alcançou os 62 pontos e o 4° lugar que lhe valeu a classificação para a Libertadores 2010.

O que o Cruzeiro 2015 fez igual a 2009?

Em 2009 foram 7 rodadas a mais, mas o Cruzeiro também atuou com time misto ou reserva nas rodadas iniciais. Em 2015, foram 3 rodadas com os reservas, mas a derrota para o Figueirense na ressaca pós-Libertadores com a estreia dos titulares na competição.

Desde a chegada de Vanderlei Luxemburgo, o aproveitamento da equipe é de 55,5%, o que lhe colocaria atualmente na 8ª colocação. Mantê-lo não será suficiente para uma arrancada, mas é possível acreditar que a equipe evolua ao longo do torneio.

O que o Cruzeiro em 2015 fez de diferente em 2009?

A eliminação da Libertadores não significou o fim do trabalho da comissão técnica. Após a perda do torneio continental e a saída de Ramires, o Cruzeiro ainda oscilou. Nos primeiros 6 jogos com os titulares, 2 vitórias, 1 empate e 3 derrotas e a modesta 14ª colocação na 17ª rodada.

A paciência com Adilson Batista, a rejeição ao imediatismo e a chegada de Gilberto, reforço experiente que pelo visto o Cruzeiro não trará em 2015, contudo, deram resultado e nas 21 rodadas finais a Raposa obteve 13 vitórias, 5 empates e 3 derrotas, significando um aproveitamento de 69,8% dos pontos.

2011 – De Barcelona das Américas à euforia dos 6 X 1

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Em 2011, a situação do Cruzeiro após 13 rodadas era levemente superior a atual. Com 18 pontos, a Raposa estava com 11 de desvantagem para o líder, 7 para o G-4 e os mesmos 3 que atualmente tem de vantagem sobre o Z-4.

O desempenho nas 25 rodadas restantes, porém, foi catastrófico. 6 vitórias, 7 empates e 12 derrotas, perfazendo um aproveitamento de 33,3% na reta final. Não fosse a sequência de 5 jogos invicto na reta final (2 vitórias e 3 empates), coroada com o 6X1 sobre o Atlético-MG, o Cruzeiro teria conhecido a Série B em 2012.

O que o Cruzeiro 2015 fez igual a 2011?

Se a coisa não anda bem, a culpa é do treinador. Assim como em 2011, o Cruzeiro em 2015 optou por substituir a comissão técnica após a eliminação na Libertadores.

Naquela ocasião, Cuca deixou o clube após o empate com o América-MG por 1X1. O baixo rendimento da equipe no início do campeonato, tendo atuado com os titulares desde o início, evidenciava-se com o 18° lugar e míseros 3 pontos na tabela após 5 rodadas.

A estreia de Joel Santana contra o Coritiba na 6ª rodada veio com vitória, assim como a de Luxemburgo após substituir Marcelo Oliveira neste ano. Aliás, os dois treinadores iniciaram suas campanhas com três vitórias seguidas e na 8ª rodada a equipe de Joel já estava na 9ª colocação.

A instabilidade, porém, passaria a aparecer a partir da derrota para o São Paulo na 9ª rodada. Duas vitórias na sequência e o time alcançou o 7º lugar. A partir daí, 4 derrotas seguidas e um novo perde e ganha que levou a demissão de Joel Santana na 20ª rodada, com a equipe na 11ª colocação.

A efetivação de Emerson Ávila como treinador na sequência foi catastrófica. A promoção dos jovens da categoria de base mostrou-se precoce e após 1 empate e 5 derrotas, o jovem comandante foi demitido. Neste momento, o Cruzeiro já ocupava o 16º lugar com 29 pontos e estava com a luz vermelha acesa.

Para o lugar de Ávila, Vágner Mancini. O treinador não deixou saudade na torcida celeste, especialmente após os reforços indicados e o trabalho realizado em 2012, mas a sua chegada em 2011 possibilitou ao Cruzeiro reagir e das trocas registradas ao longo do ano foi a única que motivou uma melhora de rendimento. Com 3 vitórias, 5 empates e 4 derrotas em 12 jogos, Mancini teve 38,9% de aproveitamento, elevando o aproveitamento final da equipe celeste para ínfimos 37,7% e consertando os tantos erros cometidos com trocas, imediatismo, falta de planejamento e convicção na temporada.

O que o Cruzeiro 2015 fez de diferente em 2011?

A torcida cruzeirense sentiu o baque da perda de Everton Ribeiro, Ricardo Goulart, Lucas Silva e tantos outros em 2015. Em 2011, no entanto, a perda dos destaques se deu no meio da temporada, deixando os treinadores que passaram por aqui com material cada vez mais limitado.

Gilberto e Roger se desentenderam e o primeiro foi embora. Thiago Ribeiro foi para o Cagliari, Henrique para o Santos, Gil para a França, enquanto Wallyson machucou o joelho e perdeu a temporada. Por fim, até Dudu, então jovem e iniciando a carreira, foi negociado com o futebol ucraniano.

A perda de tantas peças lembra o início de 2015, mas a questão é que neste ano o novo grupo está junto desde o início da temporada e começa a dar sinais de entrosamento (além de ter mais qualidade do que os que ficaram em 2011). E parte dos reforços, aliás, tem qualidade acima dos que vieram no meio de 2011.

Com mescla de jovens valores como De Arrascaeta e Gabriel Xavier e experientes como Willians e Fabrício, além das recentes chegadas de Marinho e Vinícius Araújo, a Raposa mostrou morosidade no mercado e sentir a falta de um diretor de futebol ao não trazer um meia-atacante e apostar em Riascos, Seymour e Henrique Dourado. Contudo, as peças que chegaram naquele ano como Cribari, Bobô e Keirrison sem dúvida alguma prometiam (e fizeram) menos do que as apontadas na parte inicial deste parágrafo.

Afinal, 2015 tem cara de 2009 ou 2011?

Ninguém tem bola de cristal e conhece o futuro, é claro. Mas a análise de campeonatos antigos permite constatar o óbvio. Após 13 rodadas, nada está definido e os clubes podem ainda migrar de uma ponta a outra da tabela dependendo dos seus resultados.

O Cruzeiro pode copiar 2009 e ir a Libertadores, 2011 e brigar pelo Z-4 ou mesmo emular 2012 e ficar no meio da tabela (naquele ano o início foi melhor que o de 2015 e os dois aqui analisados). A questão é que tempo e campeonato para qualquer uma destas possibilidades existe.

Se ao contrário de 2009 a diretoria não teve paciência e optou pela troca da comissão técnica, é importante enfatizar que em 2011 a chegada de Vágner Mancini e a melhora tímida dos números com este comandante foi fundamental para corrigir a rota descendente que o time vivia. Em última instância, nem toda troca de comando é prejudicial, embora seja importante que a diretoria tenha convicção em suas escolhas.

O caminho para uma arrancada passa pela chegada de reforços (que já que não devem vir do mercado, podem sair do Departamento Médico como Alisson, Dedé, além do crescimento de Marinho e Vinícius Araújo, recém-chegados), pela paciência com o trabalho de Vanderlei Luxemburgo (mesmo tendo sido contrário a saída de Marcelo Oliveira, entendo que o momento é de dar sequência e não interromper mais um trabalho) e pela participação da torcida, especialmente nos jogos em casa. A contratação de um diretor de futebol para que 2016 possa ser pensado a partir deste semestre, o que é normal no planejamento de um clube, também é fundamental. Mas como mostra a história dos pontos corridos, ainda há muito água para passar embaixo da ponte. E o destino do Cruzeiro em 2015 ainda é incerto. Que façamos ser o melhor possível.

Por: João Henrique Castro