Depois a gente vê o que faz…


Bom pessoal, na minha última participação na Rádio GDG, disse uma frase que talvez tenha sido o lema das atitudes do Sr. Gilvan de Pinho Tavares na presidência do Cruzeiro Esporte Clube: “depois a gente vê o que faz”. E para explicar o motivo dessa frase, optei por escrever esta coluna para exemplificar em algumas situações como cheguei à tal conclusão.

Para que todos possam entender, precisamos voltar ao fim de 2014, quando Alexandre Mattos já estava com praticamente tudo acertado para trabalhar no Palmeiras. Gilvan, na arrogância de ser o “Presidente Bicampeão Brasileiro”, não se preocupou em trabalhar em busca de um substituto para o diretor de futebol, que praticamente “trabalhou” por dois clubes, levando bons nomes para a Academia e deixando a Tocca da Raposa em segundo plano. Vocês se lembram o que aconteceu.

Com a saída de Mattos, Gilvan mostrou mais uma vez arrogância ao acumular a função de diretor de futebol e, no decorrer de 2015, entregar a função para três homens comprovadamente piores que ele: Valdir Barbosa, Benecy Queiroz (que a diretoria não explica até hoje como esse homem ainda frequenta a Toca II) e Isaías Tinoco. Nesses casos, imagino que Gilvan tenha falado (ou pelo menos pensado): vai ser assim, depois a gente vê o que faz.

Quando se pensa que não há como piorar, Gilvan mostrou essa possibilidade. Minou, uma por uma, as lideranças técnicas de 2014, que davam suporte aos jogadores mais novos em troca da “saúde financeira” do clube (o detalhe é que não foi isso que vimos no balanço de 2015). Outro absurdo foi a troca de Marcelo Oliveira por Vanderlei Luxemburgo. Ali foi a prova de que para trabalhar no Cruzeiro, teria que ser calado, sem reclamar ou questionar, tratando o presidente como o cara mais entendido do futebol brasileiro.

Absurdos à parte, vamos tratar dos crimes de responsabilidade cometidos pela gestão Gilvan. O primeiro deles, no ano passado, na contratação de Riascos. Marcado negativamente na conquista da Libertadores do rival em 2013, Gilvan ‘bancou’ a contratação do colombiano. Neste ano, mais um atacante contratado ‘a pedido do presidente’: Rafael Silva. Curiosamente, os dois estavam no elenco que rebaixou o Vasco em 2015. “Apenas” esses dois crimes de responsabilidade são suficientes para exemplificar o quanto o atual mandatário celeste entende de futebol.

Voltando à cronologia. Mano Menezes deixa o Cruzeiro no fim do ano passado para comandar o Shandong Luneng (inclusive nem está lá mais). O que os “homens fortes do futebol fazem”? Efetivam Deivid, sem preparo algum para ser técnico, e o colocaram apenas como escudo para mais trapalhadas na montagem do elenco 2016. No anúncio de Deivid como técnico, o que entendi foi: vamos efetivar o Deivid, depois a gente vê o que faz. A diferença do tapa nas costas para o chute na bunda durou aproximadamente quatro meses com Deivid. E o despreparo dos “homens de confiança” do presidente ficou mais uma vez escancarado. Várias negativas de técnicos (que não estão na prateleira de cima do futebol brasileiro) e uma demora eterna para buscar Paulo Bento (aposta ousada, de um profissional que já estava disponível nas últimas duas trocas no comando celeste).

O problema de Gilvan é o mesmo de vários dirigentes de futebol. É da cultura do futebol brasileiro. Quem senta na cadeira de dirigente de futebol se acha acima de todos e ninguém discute as ações, sejam elas certas ou erradas. Admitir erros? Isso não existe. Já estamos no quarto dia de janela internacional aberta e, finalmente, temos um nome anunciado, Ramon Ábila, ex-Huracán. Quem chegar, não deveria ter a incumbência de jogar de cara, é preciso dar tempo para o jogador se adaptar, pegar ritmo. Casos como Montillo, em 2010, são afortunadas exceções.

Como disse na Rádio GDG. Ano passado, a torcida do Cruzeiro demitiu um treinador e um diretor de futebol na base da pressão. Em 2016, terá que trabalhar pra tirar um presidente e a diretoria. Mas para isso, o conselho tem que deixar de ser acomodado. A vitória contra a Ponte Preta é uma resposta do grupo e do treinador. Mas o triunfo não elimina o sinal de alerta. Presidente Gilvan, não há balanço positivo que pague a mancha de um rebaixamento para a segunda divisão. Pense nisso. Um pouco de humildade não faz mal, pelo contrário, só engrandece a personalidade de uma pessoa.

Foto: Washington Alves / Light Press / Cruzeiro

Por: Matheus T. Rodrigues