Dedé e a Copa do Mundo


A Copa do Mundo se aproxima. Hoje foi o dia de todos conhecerem os 23 nomes que representarão a Seleção Brasileira no maior evento esportivo do mundo. Imagino a alegria de cada um deles neste momento, o auge da carreira de um jogador de futebol. Porém, apesar de estar fora da lista final, um nome pode experimentar um pouco dessa alegria em ser nominalmente citado pelo treinador Tite. Além de ser uma referência na sua posição, Dedé foi reconhecido como um exemplo de vida.

Coloque-se no lugar de Anderson Vital da Silva, caro leitor. Chegou ao Vasco, vindo do Volta Redonda após um bom Campeonato Carioca, e logo se destacou. Sua força física, seu posicionamento, seus desarmes e suas arrancadas o credenciam como um dos melhores da sua posição no país. Chegou ao Cruzeiro em 2013, fazendo parte de um dos maiores times da história do clube. Porém, mesmo no seu auge físico e técnico, foi preterido por Felipão na convocação para a Copa do Mundo de 2014. No final do ano, o primeiro choque: uma lesão, que a princípio foi tratada como não-cirúrgica, o deixara fora de combate na reta final do Brasileirão e para a final da Copa do Brasil. Mas ninguém esperava que seria o início de um calvário.

O ano de 2015 iniciou, e Dedé teve que passar pela tão temida cirurgia. Previsão de recuperação de 8 meses, que acabou não se concretizando, devido a complicações na operação. A volta aos gramados ficou para 2016. Aconteceu. Mas apenas cinco jogos depois, um problema no joelho outrora operado e uma nova cirurgia. O retorno já estava previsto: no ano seguinte, 2017. E aconteceu novamente. Mas, novamente, não da forma esperada. Apenas dois jogos na temporada, um edema ósseo e a necessidade de uma artroscopia no joelho esquerdo. E agora? Agora só em 2018.

Em todo esse tempo, tenho certeza, ele recebeu o apoio dos seus familiares, companheiros de profissão e amigos. Não é fácil ser impedido de fazer o que você ama por questões que vão além do seu controle. Mesmo assim, ainda existem pessoas que não são capazes de se colocar no lugar do outro, como no exercício que eu sugeri acima. Qualquer notícia da situação clínica de Dedé virava motivo de deboche: “vai formar em medicina”; “esse aí não volta mais”; “só quer sugar o dinheiro do clube”, diziam. E se esqueciam que, por trás do profissional Dedé, existia o ser humano Anderson Vital, que lutava contra o seu próprio corpo para voltar a exercer aquilo que sempre fez com maestria.

Mas quem apostava em um final triste para essa história se deu mal. Muito mal. Talvez nem o próprio Dedé consiga acreditar em tudo que está acontecendo neste ano de 2018. Aos poucos, ele foi voltando. Jogando com a equipe alternativa, a confiança foi voltando. E quando foi acionado pelo técnico Mano Menezes, em um momento que o sistema defensivo do Cruzeiro era bastante criticado, o Mito reapareceu. Como se não houvesse perdido, praticamente, três temporadas. Em alto nível, Dedé conseguiu reconquistar a confiança total da torcida celeste. Depois chamou a atenção da imprensa nacional, onde muitos já davam a carreira do jogador como encerrada. Até chamar a atenção de Tite. Em uma escalada meteórica, o “ex-zagueiro em atividade” Dedé se tornou o “Selecionável Dedé”.

Eu não sei se ele esperava que o seu nome estivesse na lista dos 23 que disputarão a Copa do Mundo, no próximo mês. Mas, sinceramente? Pouco importa. O que Dedé construiu até aqui, mais do que um exemplo profissional, é um exemplo de vida. De insistir, de persistir, de não parar no primeiro obstáculo. De lutar, até mesmo contra si próprio, na busca do seu objetivo. De não desanimar, independente das circunstâncias e pessoas que querem te derrubar.

A história do Dedé é mais do que uma Copa do Mundo. E ele venceu. Por merecimento.

Por: Pedro Henrique Paraíso