Cruzeiro, nunca se esqueça das lições que o futebol nos ensinou


Enfim, o técnico Deivid foi demitido. Quando foi efetivado como treinador do Cruzeiro, havia forte expectativa de que o novo comandante do elenco celeste daria continuidade ao bom trabalho realizado por Mano Menezes e que se tornaria parte de um projeto vencedor. O Campeonato Mineiro seria laboratório para Deivid, o grande teste. Era o que todos falavam no momento de sua efetivação. De fato, o estadual serviu como teste, e Deivid provou que ainda precisa amadurecer muito para poder comandar uma grande equipe do futebol brasileiro. Não deu certo. Perdemos 4 meses de trabalho e o 2016 do Cruzeiro ainda está por se iniciar.

Mais um aprendizado ficou para essa nova gestão do Cruzeiro. Desde 2012, quando o presidente Gilvan assumiu definitivamente o clube, a Raposa tem cometido muitos erros, embora também tenha acertado muito. Fato é que Gilvan, a diretoria, os conselheiros do clube e o próprio torcedor, todos esses precisam aprender as lições que as vitórias e as derrotas nos trazem.

Em 2012, aprendemos que não dá para sair contratando jogadores medianos da série B. Tudo bem que naquele ano o Cruzeiro estava num processo de transição e de organização da casa após um 2011 terrível (e aos saudosistas do Zezé, um recado: é bom não apagar da memória que o ex-presidente da Raposa vendeu as principais peças do time, limpou os caixas e quase rebaixou o clube antes de deixa-lo). Naquele ano também sofremos por apostar em treinadores que não combinam com o futebol que o clube está acostumado a praticar: Vágner Mancini e Celso Roth aterrorizaram nossos olhos com suas terríveis aplicações táticas.

Em 2013 e 2014 veio o bicampeonato brasileiro. Dois anos de glórias, mas que nos serviram de muito aprendizado. Aprendemos o que é necessário para formar um grupo vencedor: é preciso investir em jogadores jovens que venham apresentando um futebol bom e regular – caso de Éverton Ribeiro e Ricardo Goulart, que vinham de boas e regulares exibições no Coritiba e no Goiás, respectivamente – e mesclar juventude e experiência, investindo em jogadores que sejam referência em campo – Borges, Ceará, Dagoberto, Dedé, Júlio Baptista, Willian, Marcelo Moreno e Tinga. E tem que ter elenco pra aguentar as diversas competições, por isso é preciso dar oportunidade também aos garotos da base – Alisson, Mayke e Lucas Silva – e investir em alguns jogadores que podem agregar – Bruno Rodrigo, Egídio, Manoel, Nílton, Marquinhos e por aí vai.

O bicampeonato também nos mostrou que é preciso ter um técnico com mais experiência, que pratique um futebol ofensivo e que tenha tempo para trabalhar e desenvolver sua filosofia. Internamente, a casa precisa estar em ordem: contratar sem fazer alarde, não deixar escapar os problemas internos do clube, fazer bons trabalhos através do marketing e chamar o torcedor para o campo. Assim, juntos, o Cruzeiro (técnico, comissão técnica, jogadores e diretoria) e o seu torcedor construíram mais páginas heroicas e imortais para a história do clube.

Passados os tempos de glórias, o Cruzeiro pareceu ter desaprendido tudo. Em 2015, o clube vendeu suas principais peças e não contratou com qualidade. Voltou a investir em jogadores medianos, como havia feito em 2012, demitiu o técnico que conquistou o bicampeonato Brasileiro e trouxe o ultrapassado Luxemburgo. Tempos sombrios na Toca, e o fantasma do rebaixamento nos assombrou outra vez. Tudo isso por causa de uma gestão irregular e que parece não ter aprendido com as últimas lições que o futebol nos deixou.

Ainda em 2015, Mano Menezes assumiu o clube e colocou as coisas no seu devido lugar. Parecia que tudo ia muito bem, quando o treinador recebeu proposta milionária do futebol chinês e abandonou o Cruzeiro. Mais um aprendizado para a lista: nunca mais dar uma chance para esse senhor que, pela segunda vez, deixou a Raposa na mão e foi-se embora.

2016 começou com a efetivação de Deivid. Retorne ao primeiro parágrafo do texto. Deu errado. A ideia era boa, mas o clube errou feio. Deu chance a um estagiário. O cara nunca treinou um clube de futebol. Foi, literalmente, sua primeira experiência como treinador. Dar chance para os novos treinadores é louvável, mas Deivid nunca havia treinado um clube de futebol. Anote essa aí para não errarmos outra vez.

E agora, sem treinador e com o Brasileiro batendo na nossa porta, o ano de 2016 vai começar para o Cruzeiro. Se alguém da diretoria estiver lendo este texto, vocês já têm nele uma ideia sobre o que fazer. Investir. Experiência e juventude. A juventude já temos, falta a experiência. Continuem trabalhando em silêncio. Falem menos e façam mais. Quanto ao treinador, pensem em alguém que venha fazendo bons trabalhos e que tenha o perfil do clube. Explorem o marketing. Chamem o torcedor.

Em 2013 pensávamos que naquele ano nós iríamos apenas construir um elenco para ser campeão no ano seguinte. Acabou que ganhamos o Brasileiro. Nunca se sabe. Ainda há tempo. Um sonho que se sonha só é apenas um sonho que se sonha só, mas um sonho que se sonha junto torna-se realidade. #FechadoComOCruzeiro

Por: Pedro Henrique Campos

Créditos da imagem do post: Marco Astoni (@MarcoAstoni)