Cruzeiro de Mano não era perfeito e agora é a hora de fazer testes


A corneta não conhece limites, nós sabemos. No futebol brasileiro, os treinadores são cobrados por não mudarem o esquema tático após um tropeço ou por não insistirem com o mesmo esquema quando a vitória não vem após alguma tentativa diferente do comando técnico. Cobra-se como se houvesse um modelo pronto, imbatível, perfeito e capaz de derrotar todos os adversários, ou como se um modelo a cada novo jogo adequado ao rival da vez sempre fosse produzir o melhor resultado.

Esquece-se do elenco (e de suas limitações), dos adversários (por vezes com elencos melhores/mais prontos). Se a vitória não vem, o treinador fez algo errado. E se veio com uma atuação que não agradou, a culpa é do comandante também. E com o passar dos tempos, algumas implicâncias vão se tornando discursos prontos para justificar qualquer desempenho que não convença.
No Cruzeiro 2016 após meros três jogos oficiais já existe uma “sentença definitiva.” Deivid é cobrado por não manter o esquema tático deixado por Mano Menezes. Ninguém lembra, porém, das mudanças no elenco de 2015 para 2016, da conjuntura diferente em que ambos assumiram e que, principalmente, o Cruzeiro de Mano, apesar do bom segundo turno no Brasileirão, era forte, mas longe de ser perfeito.
Nos 16 jogos que fez sob o comando do treinador gaúcho, o Cruzeiro venceu 8. Em casa, foram 6 vitórias, 3 empates e 0 derrotas. A maior parte das vitórias foi com autoridade e dois dos empates foram contra o vice e o terceiro colocado do torneio (Atlético-MG e Grêmio). O maior tropeço foi contra o Vasco, única equipe que marcou dois gols no Cruzeiro de Mano Menezes no Mineirão.
Já fora de casa a Raposa de Mano teve números bem modestos. 2 vitórias, 3 empates e 2 derrotas. A equipe celeste foi batida por Flamengo e Internacional e empatou com Atlético-PR, Avaí (o campo estava péssimo) e o Palmeiras reserva, com os titulares poupados para a decisão da Copa do Brasil.
Com este desempenho, o Cruzeiro de Mano teve 62,5% de aproveitamento. Seria vice-campeão, caso tivesse esta média pelas 38 rodadas. Nada mal. De fato, Mano fez um excelente trabalho. Mas o time (e o esquema) tinha suas limitações.
O ataque, por exemplo, marcava poucos gols. Excluindo a partida contra o Figueirense, em tarde que o iluminado Willian fez 4 dos 5 gols da Raposa, o Cruzeiro do Mano fez 22 gols em 15 jogos. Menos de 1,5 gols por jogo. Marcar poucos gols, aliás, foi um problema que perseguiu o Cruzeiro por todo 2015, mas que não foi resolvido (ainda que melhorado) pelo “esquema do Mano”, especialmente contra adversários mais qualificados ou mais fechados.
A defesa, por outro lado, teve números excelentes e foram apenas 13 gols sofridos em 16 jogos. A exceção de alguns jogos ruins, como contra o River Plate e o Joinville, por todo 2015 o Cruzeiro sofreu poucos gols. Com o “esquema do Mano”, porém, o time teve mais regularidade e controle do jogo. Os empates até aconteciam, especialmente quando o ataque falhava. Mas vencer o “Cruzeiro do Mano” era difícil demais. No entanto, o “Cruzeiro do Mano” também não vencia com tamanha facilidade há ponto de ser considerado imutável.
Se Deivid entende que o Cruzeiro para suplantar rivais mais recuados ou qualificados precisa de um esquema novo, o momento de testar é este. Além de tudo, Ceará e Willians deixaram o clube e o lado direito depende de outros jogadores. O “Cruzeiro do Mano” não existe mais e manter o esquema, com novas peças no elenco, não seria garantia de sucesso. Até porque o “Cruzeiro do Mano” não era perfeito.
Deivid precisa ser avaliado por suas ideais e suas tentativas. Não por não se guiar pelo que existia no ano passado. Se deseja construir algo diferente, a hora é agora. E se vai dar certo, só o tempo vai dizer.