Carta aos jornalistinhas


Caríssimos jornalistinhas mineiros, que vergonha, hein? Nesse estado tão bacana que é Minas Gerais, terra de gente que prega a liberdade e a luta, que não se rende facilmente só porque outro alguém diz que aquele caminho é o certo, vocês me arrumam uma presepada dessas?  O mundo está careca de saber que nossos jornalistinhas de esporte são pífios e limitados, mas tem coisas que vocês andam dizendo que até Deus duvida.

o juiz parece pensar que acertou, imprensa mineira? - Foto: Cesar Greco/Arena/AE SPQuer dizer que agora a torcida cruzeirense não vai perdoar Kleber? Quer dizer que AB vai cair? Quer dizer que o grupo todo é fraquinho? Aham, Cláudia, senta lá. A verdade só é assim no fantástico mundo de Bob Faria. Aqui, dentro desse grupo, a história é bem outra, e vocês deveriam ter um pouquinho de respeito por ela.

Para início de conversa, eu não sei nem porque os veículos mineiros deixam certos elementos escreverem em seus jornais, já que uns não sabem nem colocar vírgulas em lugares certos. Tem jornal que eu pego para ler que é praticamente uma tortura chinesa. Tudo escrito errado, vírgulas inexistentes, palavras faltando letras e frases faltando sentido. Aí me colocam umas inconhas dessas para escrever sobre futebol, que atinge muitas pessoas lá na alma. Alguns veículos valem o que pesam: apenas 25 centavos. Outros deveriam rever os valores que cobram da população para ler um bando de analfabetos escrevendo em suas páginas. E depois perguntam por que o Brasil não vai pra frente.

Tem horas que eu acho mesmo que Adílson Batista devia sair, e quem devia comandar o time são os comentaristas das rádios e TVs porque, esses sim, entendem absolutamente tudo de futebol. Inclusive hoje já tem um colunista aí se perguntando “por que não sou treinador?”. Então, Cruzeiro, dá uma chance para eles, que sabem exatamente o que fazer com o time, como a torcida se sente depois de uma derrota, quais peças não deveriam estar no time e quais deveriam estar. O único problema é que, se o nosso técnico é auto-nomeado “Professor Pardal”, esperem para entrar na terra do rocambole se esses jornalistinhas e adjacentes vierem comandar o clube. Afinal, nunca vi enrolar tanta gente com tanta besteira em tão curto espaço de tempo.

E agora, sobre Kleber. Dos jornais mineiros que tive o desprazer de ler hoje, todos falavam que a culpa foi de Kleber, que não tem precedentes para o estrago que ele fez no Morumbi, que a torcida não vai perdoá-lo. PERA LÁ! Não ousem vocês colocar a NOSSA torcida nessas folhas sujas de papel que vocês chamam de jornal. Kleber pode ter o temperamento que for, e o histórico que mais agradar aos oposicionistas, mas todo mundo aqui nessa casa chamada Cruzeiro Esporte Clube tem certeza absoluta de que ele ali era o que mais queria levar esse time pra frente. A menos que vocês da imprensa estivessem em Marte na semana passada, viram como o cara lutou desesperadamente para reverter a desvantagem no Mineirão. Ontem ele se dispôs a entrar em campo com dor, se dispôs a dar sangue até o último minuto, e tudo isso para ver que o último minuto seria o primeiro minuto e meio de jogo.

Quando as pessoas dizem “times do eixo”, que consistem em times do Rio e São Paulo, temos N motivos para crer que eles são, sim, times do eixo. Mas o que me chama atenção, como jornalista, é como a “imprensa do eixo” retrata seus times. Os defendem com unhas e dentes. Nego pode estar o mais errado que for, mas a imprensa de lá, que é, em sua maioria, comprometida (e isso não tem a ver com isenção nem tampouco imparcialidade), compra a briga dos times, colocam a polêmica na roda. E aqui, o que vocês fazem? Culpam o jogador por um erro crasso de um árbitro maluquinho da silva sauro! Larrionda deve estar tomando Activia até agora pra expelir dele a merda que ele fez no jogo, e tanto ele sabe disso que depois dessa presepada ficou com medinho de distribuir cartões e, em lances bem mais duvidosos e/ou perigosos, não aplicou sequer o amarelo. E quando ele vinha, depois, era a granel.

Portanto, jornalistinhas mineiros de esportes, se hoje Cruzeiro e Atlético-MG são preteridos no cenário brasileiro do futebol, a culpa também é de vocês e dessa incompetência sem tamanho, desse rabo preso que não sei nem de onde vocês tiraram e dessa falta de sentido nas coisas que vocês falam. Não cabe aqui, nessa coluna, nas nossas cabeças e nem nos jornalecos de vocês falar “e se Kleber não tivesse sido expulso”. A questão não é essa. A questão é que vocês têm medo de comprar uma briga porque sabem que não tem a menor competência para se sustentar nela. Só sabem alisar quando o time ganha, sem o menor talento para falar de futebol (que, como a coisa mais importante entre as desimportantes, como dizia Nelson Rodrigues, merecia um pouco mais de calor em nossas páginas), e botar a culpa em Deus e o mundo quando o time perde. Sinceramente, me senti na vantagem. Vocês nem falaram de mim, que não fui ao Morumbi. Porque eu tenho certeza que vocês também acham que a culpa é minha e que a torcida do Cruzeiro não vai me perdoar por essa ausência.

Cada vez mais eu sinto pena do nosso estado, terra de Carlos Drummond de Andrade, Otto Lara Resende e tantos outros nomes de destaque nas letras brasileiras. Tenho pena por ser mineira antes até de ser brasileira, e tenho VERGONHA de ser jornalista em meio a essa corja de desesperados que fazem do jornalismo uma espécie de prostituição, escrevendo qualquer coisa só pelo dinheiro. Não têm paixão pelo que fazem, ética ou humildade. Só sabem ser piada pronta.

Se vocês não conseguem respeitar os times mineiros, mesmo que haja preferência por apenas um deles, pelo menos respeitem o estado que vocês levam nas carteiras de identidade, no nome dos veículos ou, simplesmente, no espaço pequenininho do “expediente”, que muitos de vocês, limitados que são, não devem nem saber que existe. Minas é maior do que qualquer desacerto futebolístico, maior que qualquer cifra de vendas de papel e de cotas de TV. Minas é tão maior que vocês! Lembrem-se sempre disso. E se vocês não podem, com profissão de jornalista, defender esse nome e esse estado onde quer que ele esteja sendo prejudicado, peçam para ir ao banheiro e saiam fora. Se Lula não os avisou ainda, não é preciso mais de diploma para ser jornalista. Pois eu acho que, no nosso amado estado de Minas Gerais, “qualquer um pode ser jornalista” é bem a palavra que se aplica a vocês, que são quaisquer uns. Que podem pegar o diploma da parede e colocar como suporte de panela na pia. A diferença é mínima, porque esse pedaço de papel, agora, vale o mesmo que vocês: nada. E Minas é tudo. E quando esse estado resolver revidar contra vocês, a dor será intensa e lancinante. E aí, poderemos dizer em uníssono: não perdoa-os, Minas. Eles nunca souberam o que fazem.