Ao infinito, e além


Existe no mundo uma coisa de incerta: o amanhã. Ninguém sabe, nem de longe, o que irá nos acontecer amanhã, o que vai ser da nossa vida, se iremos ganhar na loteria, perder o emprego, achar um grande amor. Será que vamos morrer?  Tudo isso é uma baita de uma dúvida e ninguém nunca saberá o que o amanhã nos prepara. Mas, apesar disso, existe no mundo uma coisa de muito certa: o domingo.
 
Ao infinito, e alémÉ, porque no domingo rola aquela Sessão da Tarde e o fim da história todo mundo já sabe. A chance de o Cruzeiro sair de “Uber” com 3 pontinhos na sacola é de 99%, fora o baile. A diferença é que agora a gente SÓ precisa dos 3 pontos. Não vamos nos apegar em 5×0, nem em gols quase-olímpicos de Roger. O que vier, para o nosso lado, é lucro. Ganhando de ½ x 0 a gente garante o que é nosso por direito (a liderança E a supremacia no estado) e ainda ajuda o MiniChicken a descer um pouquinho mais no conceito nacional.
 
Entretanto, existem duas pedrinhas básicas no nosso caminho. A primeira é que o Cruzeiro se sagrará, um dia, o time que mais levanta defuntos em campeonatos da história do futebol mundial. Nego pode estar lá em cima na tabela que o Maior de Minas vai lá e desce o cacete sem a menor cerimônia. Mas quando a gente joga com quem está lá embaixo, senta que lá vem história. É uma presepada só, um sufoco inimaginável e a chance de algo bastante ruim acontecer torna-se, magicamente, bem expressiva. O segundo problema é que quem é líder, impreterivelmente, só tem uma saída: se manter líder; fora isso, só tem como ir abaixo. Então, independente do resultado do jogo contra o Grêmio, e de todos os outros jogos que estão por vir, contra o MiniChicken mineiro, neste domingo, só temos uma escolha: dar uma de Buzz Lightear e mirar no infinito – e além.
 
Uma amiga constuma dizer – com muita propriedade, aliás – que a história dos clássicos se firma através de seus resultados. Mesmo que o Cruzeiro tenha todo o aparato teórico de um tabu inabalável contra seu principal “rival”, jogo se joga no campo, e o resultado dessa guerra costuma ser, fatalmente, um retrato de toda a competição. Se o Cruzeiro vencer o Atlético-MG, pode parar de sonhar com o título do campeonato: começaremos a realizar este sonho. Por outro lado, se o lado rosa da lagoa perder esse bendito desse clássico, vai estar mais perto ainda de seu pior pesadelo (e nosso maior motivo de risadas): a segundona. Então, por mais que o Maior de Minas tenha, de longe, o meio de campo mais bem estruturado da competição, a muralha mais eficiente e capacitada do campeonato brasileiro, craques de dar inveja àqueles que não tiveram o prazer de desfrutar 2003, dessa vez, cada treino é jogo. E o jogo é guerra. Qualquer mínimo deslize pode nos levar ao limbo daqueles que queriam alguma coisa e não a tiveram. E morrer na praia não é muito a nossa cara.
 
Portanto, por mais que sejamos, no dia 24 de outubro, o melhor grupo, o mais aguerrido, temos que trabalhar com foco, raça e vontade. Principalmente vontade – se isso não existir, não existirá mais nada. Técnica, habilidade e diferencial de jogo a gente tem de sobra, seja jogando contra o Atlético-MG ou contra qualquer outro time. O próximo jogo, no entanto, será uma batalha, se não dos “aflitos”, dos ansiosos: um quer o infinito, o outro quer sair do buraco. E só o vencedor terá, plenamente, o que busca. Se Cuca souber usar da psicologia para mostrar ao grupo que nós temos TUDO o que esperam de nós, e que só dependemos de nós mesmos para repetir, em 2010, nossas páginas heróicas imortais, o resultado não poderá ser outro além dos 3 pontos para o lado nobre da Pampulha. E aí sim, com esse domingo previsível, estará tudo normal no mundo do futebol.