A semana que não passa


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É nesse compasso que todo coração celeste tem batido ao longo daquela que, pelos últimos quatro anos, tem sido a semana mais longa da nossa existência. E não negue. Sem essa de torcer pouco, torcer menos ou mais, simpatizar, estar calmo.Se você é cruzeirense, tua semana parece que está empacada na segunda-feira ainda, já que o domingo da redenção custa a chegar.

Em uma semana comum, o torcedor, em especial o cruzeirense, não foge muito ao esteriótipo de uma pessoa normal. Acorda cedo, escovas os dentes, vai para o trabalho, reclama do trânsito para quem é da capital ou ri de tudo isso se está na mansidão do interior. As horas até que passam, sabe. Sai do serviço, come alguma coisa, estuda, vê a família. Não deixa de pensar no Cruzeiro, claro. Mas tem a tranquilidade de analisar que o final de semana logo chega, então, por que a pressa?

Uma rotina que pode variar, mas não foge do anormal.

Porém, chega domingo, acaba a partida contra o Santos, vitória celeste e pinta aquela possibilidade palpável, esperada por tantos anos: podemos ser campeões no domingo. Pronto. É o que basta para esquecermos que até lá, serão sete longos dias. Sete dias dois quais você provavelmente já não faz a mínima questão a essa altura. Trocaria todos eles por uma passagem de máquina do tempo, sem volta, com uma única parada na estação Domingo, 10/11.

Vale tudo, não se culpe. Checar 100 vezes a classificação de momento, vale. Simular hipóteses, derrotas e empates dos adversários, vale. Rever gols, entrevistas, festa da torcida, vale também. Vale tudo para quem está a tanto tempo com um grito entalado na garganta, louco pra berrar e extravasar toda essa energia acumulada. Uma verdadeira catarse pré-programada, causada pela maior invenção do homem, o tal do futebol.

Sua semana não passa. A minha também não. Só sei pensar nesse tal de domingo, que tomou proporções nababescas no calendário cruzeirense. Já planejei acordar cedo, abraçado de véspera pelo manto azul que fiz de pijama e vai me acompanhar durante todo o dia. Checarei a cerveja, para ver se está geladíssima, antes de encontrar com os amigos e rumar para o churrasco improvisado pelos arredores da Toca III. Faça o mesmo, se puder. Em casa, na rua, na lua. Apenas faça, você merece.

Quando der a hora do jogo, é fechar os olhos e lembrar de tudo que se passou no ano: time sob desconfiança, reforços e a obrigação de se montar uma equipe competitiva, eliminação e perda de título, pequenas oscilações, descrença do Brasil inteiro, até mesmo aquela obrigação de resposta ao rival. Tudo isso será elevado à décima potência quando o relógio marcar 17hs de domingo. A partir daí, a razão da semana mais longa dos últimos anos estará ali, ao alcance dos nossos olhos: o Cruzeiro. É direcionar todas as energias ao clube, aos jogadores, à bola! Que ela entre no gol adversário sem medo de ser feliz! Uma, duas, quatro, seis vezes. Ou apenas meia, tá valendo também. Façamos nossa parte em campo, na arquibancada, em frente a cada televisor ou rádio de pilha. Chegou a nossa hora, mais uma vez.

E não se abatam caso o resultado paralelo que precisamos não ocorra. Provamos por A mais B que nessa temporada não dependeríamos de ninguém, somente nossas forças. Seja para nos recuperarmos das quedas ou administrar os bons ventos. Façamos a nossa parte. O que importa é vencer o adversário e cravar mais três pontos no nosso caminho. E se estiver difícil em campo, que invertam a bola para a torcida. Ela fará o gol no peito, na marra, de carrinho se for preciso.

Se o grito não sair nesse domingo, sem drama. Viveremos outra dessas semanas malucas que parecem não passar nunca. Ficaremos com a mesma ansiedade, o mesmo pensamento comum que nos une desde berço. Porque não se torna cruzeirense. Nasce-se. Somos predestinados, essa é a verdade. Então, firme o corpo, conte as horas para esse domingo e se prepare. Ele será de mais uma página heroica e imortal nessa história que construímos juntos chamada Cruzeiro.