A falta que um mito faz


Dia 05 de novembro de 2014, semifinal da Copa do Brasil. Santos e Cruzeiro se enfrentam na Vila Belmiro, o Cruzeiro defendendo a vantagem de 1×0 construída no Mineirão, na semana anterior. Na saída de bola, o Santos cria uma boa ocasião e abre o marcador. Para muitos, falha do zagueiro Dedé, que não conseguiu acompanhar Robinho na jogada. Poucos notaram como o defensor voltou mancando, visivelmente sem as condições ideais. Dedé sairia de campo ali, antes dos 5 minutos de partida, para não voltar a vestir com a camisa do Cruzeiro até hoje. Praticamente 11 meses depois.

O edema ósseo no joelho direito incomodava e segundo o departamento médico do Cruzeiro, demandava um tratamento convencional, sem a necessidade de cirurgia. Pois bem, mais de 2 meses depois o mesmo DM vem a público informar que Dedé passará por intervenção cirúrgica para correção de problema de cartilagem e ligamentos. A previsão seria então de 6 a 8 meses no estaleiro. Não vou entrar no mérito de um possível erro médico na avaliação da lesão, pois este me parece óbvio. A questão é que um erro de avaliação faz uma diferença gritante no planejamento do time.

Se num mundo de sonhos, Dedé tivesse feito a operação logo que foi constatado o problema, seguramente ele já estaria de volta aos gramados. Afinal, teria ganhado pelo menos 2 valiosos meses no tratamento e teria sua volta programada entre abril e junho. Mas o que foi feito não volta atrás e sua ausência abriu uma lacuna no plantel. Manoel, Léo e Bruno Rodrigo são bons zagueiros para os padrões brasileiros e em algum momento foram titulares nos títulos brasileiros de 2013 e 2014. Mas Dedé sempre foi a referência: para o bem e para o mal.

A trajetória de Anderson Vital da Silva no Cruzeiro é marcada por altos e baixos. Quando chegou, foi rapidamente alçado à condição de ídolo porque há muito a China Azul não via um defensor tão talentoso. Até o momento, é pra mim, o melhor zagueiro que eu vi vestindo a nossa camisa. Comprometido, raçudo, fisicamente monstruoso e muito disposto, é o tipo de jogador que se entrega ao time, que dá carrinho de cabeça no gramado. Colecionou grandes atuações. Na cabeça dos mais críticos, ficam algumas falhas clamorosas como na Copa do Brasil 2013, contra o Flamengo, ou pênaltis bobos cometidos como no confronto direto frente ao São Paulo em 2014. Mas fica uma certeza: sem seus botes impressionantes, sua jogada aérea e sua entrega ao time da Toca da Raposa, os títulos brasileiros teriam sido muito mais difíceis.

Sua simples presença melhora os companheiros de defesa. E a reposição, com as contratações de Paulo André e Grolli, se mostra equivocada: um coleciona falhas e o outro nunca teve oportunidade de jogar, sabe-se lá o motivo. A última vez que vi Dedé no gramado do Mineirão foi após a vitória sobre o Goiás, que nos garantiu matematicamente o bicampeonato nacional. Ele comemorava e pulava, mancando, a consagração. De lá pra cá é possível acompanhar sua recuperação pelos vídeos do instagram, da mesma forma que vemos nessa rede social seus frequentes vídeos nos camarotes da nossa casa, torcendo pelos companheiros e chamando a torcida. Comportamento muito elogiável para alguém de renome e indisponível para jogo. Esperamos vê-lo de volta em breve, mito. Para tantas outras vitórias e explosões de alegria, mas principalmente, para termos de volta na cancha um guerreiro apto a escrever novas páginas, heroicas e imortais, como nossa história exige.

Por: Emerson Araújo


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