A culpa não é das estrelas


Pode parecer fácil vir aqui chorar sobre o leite derramado. O Cruzeiro foi eliminado em casa (como sempre) na Libertadores, para um River Plate que veio a Belo Horizonte para jogar futebol. Algo que o time de azul não conseguiu, e o pior, não tentou. Faltou entrega, raça, disposição. Esse time está longe de ser brilhante tecnicamente, todo mundo sabe disso. Agora o que ninguém imaginava é que entrariam com tamanha preguiça para um jogo que poderia salvar a temporada. A verdade é que desde o final do último ano, tem coisa errada demais. E como diz um treinador por aí, a bola pune os incompetentes.

Incompetência essa que vem de cima. Entendo o fato de Mattos ter saído, era um diretor de futebol que jogava pra galera e não tinha nenhum compromisso com a saúde financeira do clube. Faz loucuras, acha que tá jogando videogame na vida real. Naturalmente, em algum momento entraria em rota de colisão com o presidente. Aconteceu, ele se foi. O problema foi Gilvan pensar que tem competência para ser o diretor de futebol. Entende muito de administração, nada de bola. E ainda por cima se cercou de dois funcionários que podem ter exercido papeis importantes no clube, mas como responsáveis pelo futebol são pífios. Benecy e Valdir, fracos, sem pulso, sem capacidade de estar no comando do departamento de futebol de um time de tamanha envergadura.

Não poupo o Marcelo Oliveira, por mais que o considere o menos responsável por esse semestre fracassado. Ele erra quando não tenta novas alternativas, esquemas táticos, quando não deu oportunidades para os jovens no estadual e acabou se tornando refém de jogadores sem brio como Mayke, De Arrascaeta e mais uma baciada. No jogo de ontem no Mineirão, só poupo das críticas o treinador, que não errou na escalação nem nas mexidas, e Mena, que foi o único que entendeu que era jogo de Libertadores, Alisson e Gabriel Xavier que entraram buscando algo. Vejo que é hora de refrescar ideias, falta qualidade no time. E quem está de má vontade precisa ser negociado urgentemente. Mayke e Henrique, por exemplo, me parecem insatisfeitos por não terem sido liberados em janeiro. Era melhor ter feito um desmanche completo e recomeçar o plantel do zero.

O raio-x da partida é o seguinte. O sempre improdutivo Wililan teve uma chance de gol claríssima aos 3 minutos de jogo. Sabe-se lá porque cargas d’água, isolou. Foi o ponto de virada. A defesa com Manoel e Bruno Rodrigo se mostrava extremamente insegura. O que é realmente difícil de consertar, porque Léo e Paulo André, as outras opções imediatas, vem mostrando futebol ainda pior. Mena é fraco no apoio, Mayke está de má vontade, não quer jogar. Fábio não falhou nos gols, mas parecia mais nervoso que os jovens, postura incompatível para um líder. Nossos volantes foram péssimos na cobertura e saída de bola. Marquinhos e Willian conseguiram não fazer nada, nem no ataque nem na defesa. Damião lutou, mas não ganhou uma bola da zaga, sempre escolhendo mal a jogada. De Arrascaeta, por mim, nunca mais veste a camisa do Cruzeiro.

Aí me vem a torcida e põe a culpa no Joel. Porque ele bateu pra fora uma bola com a perna ruim, sem ângulo, quando a vaca já tinha ido para o brejo. Na boa, ontem eu vi um time com um monte de mau caráter em campo. Gente que não tem compromisso com essa camisa, salvo raríssimas exceções. Algo deve ser feito, precisam limpar esse grupo podre, separar o joio do trigo. E trazer reforços de qualidade. O primeiro reforço é um diretor de futebol competente, não um boçal tapa-buraco ao estilo Dimas Fonseca. O trem azul está fora dos trilhos, precisa colocar as coisas no lugar urgentemente. Uma reformulação urge, não se debruce sobre as conquistas passadas, Dr. Gilvan. O Cruzeiro merece respeito, principalmente de quem veste essa camisa. Reage, Cruzeiro!