557 vezes Fábio: O goleiro de Deus


Ninguém mais apropriado para falar do recorde de Fábio do que um dos maiores críticos a seu futebol. Afinal, uma parcela da torcida dizia até o ano passado que o goleiro que mais vezes vestiu a camisa do Cruzeiro não era um ídolo por não ter um grande título no clube. E sou bem desses, que critica e sempre criticou muito o arqueiro que credita ao Senhor suas melhores exibições.

O fator religioso ajuda no título da matéria mas não é algo que quero adentrar no momento. Cada um acredita e segue o que lhe cabe e ninguém tem conta com isso. O goleiro Fábio, no entanto, é patrimônio e pauta de todos nós, torcedores do Maior de Minas. A trajetória do goleiro no clube iniciou em 1999, mas acredito que ninguém se lembre. Foi campeão da Copa do Brasil em 2000 como um reserva, todos sabem disso por ter lido a respeito. Ninguém lembra dele naquele time, era um reserva discreto e de pouca visibilidade. Assim como é hoje Alan. Vai me dizer que você conhece o Alan como goleiro do Cruzeiro? Quem trabalha no meio e cobre o dia-a-dia na Toca talvez não reconheça o rapaz. Fábio era isso, um figurante no grupo campeão de, Geovanni, Sorín, Muller e companhia limitada.

O goleiro então ganhou notoriedade no Vasco da Gama com boas exibições. Em litígio com o clube cruz-maltino, foi adquirido pela Raposa em 2005 e teve um início muito conturbado. Praticava defesas milagrosas e cometia falhas inacreditáveis. A eliminação na Copa do Brasil daquele ano, para o Paulista, é até hoje chorada por muitos. E a falta de reação do arqueiro dói na alma de todo cruzeirense que se preze. Porém, Fábio se recuperou bem na temporada e fechou bem o ano, sendo um dos principais nomes do time que perdeu Fred e se tornou um coadjuvante no Brasileirão. O 2006 foi bom e o amadurecimento foi visível. A grande crise, porém, ocorreu em 2007.

O episódio do gol de costas é uma mancha indelével. Para completar o processo, o goleiro se lesionou e ficou um tempo parado, era execrado pela torcida que pedia sua venda. Mas ele persistiu e recuperado de lesão, retomou a camisa 1 e foi conquistando a confiança de todos com suas grandes exibições. Sua atuação no primeiro jogo da final da Libertadores, em 2009, foi memorável. Desde então as falhas se tornaram mais raras e as defesas impossíveis vem sendo a tônica de seu futebol. Até hoje, sou um crítico ferrenho do nosso goleiro. E vou continuar sendo, porque torcedor do Cruzeiro não se contenta. O ‘querer mais’ é o que nos move.

A conquista do Brasileirão 2013 foi a pá de cal no argumento de que não era um ídolo. É um ídolo, está marcado na história como um campeão e ainda tem muito a conquistar. Restam 6 jogos para a sonhada conquista da América e o grande sonho é ver Fábio, com sua camisa amarela, repetir o feito de Piazza em 1976 e de Gottardo, em 1997. Não duvido que Fábio seja visto pelos meus filhos como Raul é visto por mim, um goleiro insuperável. A verdade é que o nosso mito Raul também cometeu falhas consideradas indeléveis. E hoje, ninguém se lembra. Que Fábio persista, conquiste mais Brasileiros, Libertadores, Copas do Brasil e Mundiais. Campeonatos Mineiros também, não vamos desdenhar. Que nos anos restantes de sua carreira ele seja o jogador mais vitorioso da história do clube e não somente o que fez mais jogos. Parabéns, goleirão. Mas nós queremos muito mais.