130 anos de abolição e o racismo no futebol


No dia 13 de maio de 2018 é comemorado o aniversário de 130 de abolição da escravidão, através da assinatura da lei áurea. Apesar da dita liberdade dada a população negra do país, não f oram feitas políticas públicas que inserissem os agora ex-escravos na sociedade, o que contribuiu e muito para a estrutura racista que temos hoje no futebol.

Quando falamos em racismo especificamente no Cruzeiro, o caso mais emblemático é o do ex jogador Tinga, que sofreu ataques no jogo contra o Real Garcilaso, em partida realizada no Peru, pela Libertadores de 2014. Porém, o problema é bem maior do que esse triste episódio.

O Palestra Itália foi o primeiro clube a encaminhar a então Liga Mineira de Desportos Terrestres a ficha de um jogador negro, de nome Bento. O fato ocorreu no ano de 1925, quatro anos após a fundação do clube. De lá pra cá, diversos ídolos celestes trouxeram na pele a cor que um dia foi símbolo de escravidão. Não irei citá-los para não cometer injustiças aos que por falha possam ser esquecidos.

Apesar da brilhante atuação nos gramados, nas áreas responsáveis pelo poder e decisão no clube a história não se repetiu. Em toda sua história, o clube celeste não teve sequer um mandatário negro. Atualmente, pelo que consta no site do clube, nenhum dos membros da diretoria é negro.

A situação se repete em todos os times da série A. Nem mesmo na Bahia, estado com a maior população negra do país os mandatários são negros. A realidade do poder no futebol não representa tampouco a situação populacional do país onde 53,6% da população do país é negra (PNAD 2015).

Cabe a reflexão: a ausência de negros e negras nos cargos de poder no esporte se deve a falta de capacidade ou a falta de oportunidades? A lógica de que dentre a maior parte da população do país não existe um único indivíduo capaz ou interessado em assumir um clube de futebol é no mínimo estranha.

Os clubes, enquanto entidades inseridas na sociedade, deveriam repensar o papel que exercem para além do campo e trabalhar não só em campanhas de combate ao preconceito racial nas arquibancadas, mas também na própria estrutura.

E quanto ao Cruzeiro, se somos – e reafirmamos – que somos o time do povo, devemos colocar essa fala em prática e trabalhar para que o povo independente de raça, gênero e classe social seja realmente parte da realidade do clube.